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Posts e reflexões por dra. Patrícia Tenguam

A Depressão

Escurece, e não me seduz
tatear sequer uma lâmpada.
Pois que aprouve ao dia findar,
aceito a noite.

E com ela aceito que brote
uma ordem outra de seres
e coisas não figuradas.
Braços cruzados.

Vazio de quanto amávamos,
mais vasto é o céu. Povoações
surgem do vácuo.
Habito alguma?

Carlos Drummond de Andrade

Não entender o sentido do amanhecer, de poder sorrir e fazer sorrir, não ter motivações para algo novo e não lembrar mais da satisfação com as coisas antigas. Tudo parece mais cinza, mais frio. Sentir-se triste nos é familiar, sabemos descrever experiências semelhantes e podemos nos empatizar com a tristeza alheia. Ter tristeza todos os dias já não pode ser compartilhado tão facilmente. Não é comum, familiar e não nos aproxima da saúde, pelo contrário, nos propicia doenças físicas, ausências no trabalho e afastamento de pessoas queridas. Nos dias atuais, em que ser feliz nos é mostrado como imperativo de propaganda e estilo de vida, poder olhar para a própria tristeza e colocá-la em tratamento é tão importante quanto perceber as lágrimas que vêm de fora.